BIM: AEC ou TI?

Quando digo que não sou arquiteto ou engenheiro, percebo um pequeno movimento brusco de espanto nos músculos faciais, Afinal a maioria dos profissionais que trabalham com BIM, na posição de coordenadores ou gerentes são engenheiros ou arquitetos. Faz sentido, já que o BIM diz respeito à indústria da construção civil. É claro que o conhecimento em construção civil é necessário, pois este é o negócio em questão. Mas a cada aprendizado, a cada evolução nesta área, percebo que a tecnologia da informação está mais presente do que nunca na Modelagem da Informação da Construção.

Uma vez que as pessoas percebem que o BIM não é uma ferramenta, e que o ‘M’ diz mais respeito à ‘Modelagem’ do que ao ‘Modelo’, fica claro a associação da tecnologia com os processos e técnicas de gerenciamento da modelagem da informação. Nada mais ‘TI’ do que modelagem de dados. Vemos uma série de conceitos invadir a rotina dos projetos de construção como gerenciamento ágil, sprints, ambiente comum de dados, interoperabilidade, simulações computacionais, análises utilizando inteligência artificial, design generativo, etc. A maioria jargões da industria de TI e engenharia de software. Não é incomum ver engenheiros e arquitetos procurando cursos de ciência de dados e IA com a intenção de ampliar seus conhecimentos para aproveitar o máximo das vantagens da tecnologia BIM. A modelagem de dados sempre foi muito presente em outras indústrias ou áreas, como o mercado financeiro, estatística, estratégia governamental, indústria automobilística, etc. Ela agora está presente como agente facilitador para o mergulho da engenharia e construção civil na indústria 4.0. E parece não ter volta. Mas vamos olhar atentamente para isso.

O que eu vejo é uma mudança disruptiva muito mais no formato de trabalho, nos modelos até então tradicionais e bem antigos de processos e gerenciamento do que nos conhecimentos técnicos necessários. É claro que os conhecimentos de TI inerentes à esta tecnologia são necessários, mas não, a meu ver, para todas as funções. Percebo uma quebra de paradigma nas relações entre os diversos envolvidos do setor, uma forma mais colaborativa de trabalho e mais espaço para conhecimentos técnicos que antes não tinham função definida na indústria da construção civil. É claro que nem o conhecimento de engenharia ou arquitetura, nem o conhecimento de TI, sozinhos, vão conseguir desempenhar tão bem suas funções no que solicita a tecnologia BIM, mas a sincera colaboração de todos estes conhecimentos juntos.

Para isso, o desafio está em ter coragem de alterar os modelos de gerenciamento e as formas de trabalho, tornando-os mais ágeis, enxutos e colaborativos, sensibilizando os profissionais da área a ter uma visão holística, facilitando a evolução de cada um, em cada área de atuação. Mais do que infraestrutura, processos e capacitação em ferramentas, precisamos investir mais em políticas e capacitar os profissionais da AEC para melhorar a comunicação e trabalho colaborativo e ampliar o desenvolvimento de ‘soft skills’.

No meu caso, pareço ter me encontrado profissionalmente. Trabalhei a vida toda como projetista de engenharia civil, me formei em Matemática e me especializei em Sistemas de Informação. Esta vida dupla, de experiência em projetos de engenharia e paixão por TI, me moldaram para me colocar exatamente onde estou. Vida longa à colaboratividade em todas as áreas!